TV on the RADIO.


“Era 1967. A minha banda fazia algum sucesso, até gravamos um Vinil pelo colégio Marista. "Os Brasas" era a banda comedora da hora. Tal qual Paul Mc Cartney eu fui tocar contrabaixo com um instrumento emprestado, só que diferente dele eu nunca aprendi.

Uma namoradinha minha tinha ido pra Inglaterra. Trouxe-me (não se iniciam orações com pronomes, por isso usa-se a ênclise) uma corda de baixo envolta em lã e um disco que fazia sucesso da minha banda favorita que acho que plagiava o Renato e seus Blue Caps. The Beatles. Era um tal de Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Eu me reunia com meus amigos para tomar uma Sukita e ouvir em volta da vitrola este disco tão maravilhoso. Acho que eles superaram o The Fevers desta vez.”

Este relato não é meu. É o relato da vida do meu pai. O relato mais filha da puta que eu já ouvi. O relato que me faz odiá-lo e morrer de inveja profundamente.

Não. Eu não sou saudosista. O meu amigo super-ultra-hype-antenado Hélder vive me mandando discos pra ouvir. Uma bosta atrás da outra.Os indies são engraçados, as bandas só são boas se ninguém conhecer.

No Anthology 2, quando os Beatles começam a fazer sucesso, mostram a imagem de uma típica gordinha feia inglesa aos prantos dizendo “Agora eles vão fazer sucesso no mundo todo. Isso não é justo. Eles são nossos. Pertencem ao Cavern. Pertencem a Liverpool”.

Na minha mania de julgar os outros de forma errada não olho para meu próprio umbigo. O exclusivismo nos faz sentir melhor. O exclusivismo amplifica a impressão. O exclusivismo é imoral. Mas tudo que é bom é ilegal, imoral ou engorda.

Se eu tivesse o Sgt.Peppers 1 ano antes de todo mundo( como meu pai o teve) eu não ia mostrar pra mais de 5 amigos meus. E quando chegasse no Brasil eu olharia blasé para todos e diria “É, esse disco é até bonzinho”.

Como as coisas são mais rápidas agora, quando daqui há 1 ano o “Tv on The Radio“(VERY THANKS HELDER) virar o novo Franz Ferdinand, eu vou passar a achá-los “marromeno”. Afinal, Tequila boa é a que eu tomo. Enquanto isso vou ouvindo todo santo dia o Dear Science. Ou eu virei Indie, ou eu sempre fui e não sabia.