1/27/2009

A impunidade da fé.

A situação,pra mim ao menos, é óbvia. Berlusconi queria. O Milan queria. O xeique queria. A esposa dele queria. O bispo e a bispa já tinham até planejado um banquete na prisão domiciliar que se encontram (coisas do Satanás, que se manifesta de todas as formas). Assitindo ao jogo, terminada a partida, Kaká se despede da torcida, de Maldini, de Beckham, ensaia uma marejada nos olhos, e sai ovacionado.O "Fica Kaká!!!" entoado desta vez não seria suficiente.Ele iria embora.

De lá, Kaká vai se reunir com os dirigentes milanistas e as "lavadeiras" de dinheiro ingleses. De lá de dentro ligam para o mesmo. Seu mundo caiu. A igreja que ele casou, o templo do seu amor, seu último culto virgem. Caiu, em pedaços. Sodoma e Gomorra moderna.

Tenho certeza absoluta, e se existisse uma máquina da verdade eu apostaria o dinheiro do meu barco que ainda não comprei. Kaká não foi para o Manchester porque o teto da igreja dele caiu.

A religião, amorfa como tudo que a cerca, sempre teve ares de gangsterismo. Impune no que mais pode trazer miséria e desgraça as pobres almas. Impunidade total, mutável e atuante.

Em geral-sempre quando esses atrasos de vida do planeta não conseguem explicar alguma coisa- apelam a tautologia do “Deus quis assim”. Quem somos nós para ir contra, afinal?

Essa bispa decrépita, e seu séqüito de pobres almas atordoadas, conseguem com que qualquer fator negativo em seu traçado sejam desígnios do Satanás, que afinal pode tomar várias formas segundo a bíblia, como fiscal da Receita Federal, certificados do CREA, ou até materializar-se em dinheiro dentro de roupas intimas. O Satan é bom de serviço, pena que não preza pela discrição e é sempre descoberto.

A parte mais sábia dos mesmos é que qualquer bondade que aconteça com seus fiéis, com certeza é sinal da fé-cega, faca amolada dos que tem cinismo e poder de manipular cabeças sem nada pra se agarrar.

Quando a Igreja caiu, Kaká viu um sinal. Em geral, os crentes não acreditam em sinais, imagens, estátuas ou coisas do tipo. Mas de vez em quando eles são contraditórios. Kaká viu ali a tentação do Satanás. O dinheiro versus sua felicidade. A maçâ de Eva. Poucas pessoas sabem, mas Kaká sofreu acidente gravíssimo na sua juventude em um parque aquático, e não ficou paralítico porque “Deus não quis”. Nisso agarrou-se com algemas sem chaves na fé da sua família.

Imagina uma sociedade evoluída, em que Kaká, ao escapar ileso de um acidente de proporções gravíssimas, passasse a doar 10% do que ganha para um instituto de pesquisa de cirurgias na medula, ou na espinha. Imagina que agora Kaká, investisse nos hospitais de atendimento de emergência, ou em campanhas de prevenção de acidentes. Ou resolvesse doar 1 milhão de reais, e seu prêmio da Fifa para o médico que o atendeu habilmente salvando sua carreira.

Sonhemos que Kaká usasse sua influência-de ótimo e exemplar rapaz- para desatravancar as pesquisas de células-tronco, ao invés de ir na Bancada dos Bispos apoiá-los.

Se Deus planejasse assim, seguindo o raciocínio da Bispa Biscate, no meio da negociação com o Manchester City, várias pessoas que foram curadas de acidentes graves, sofreriam todos as conseqüências –retroativamente- do bem que Kaká fez para a humanidade ajudando a Ciência a se desenvolver.

Se Deus planejasse assim, o próprio Kaká iria começar a sentir uma dormência nas pernas, fraquejando, caindo, amolecendo, desequilibrando, até o derradeiro “Não. Eu fico no Milan!”.

E se Deus escreve certo por linhas tortas, sua única participação no contrato foi a escrita. As linhas ficam por conta desta humanidade, sedenta por amaldiçoar o nosso mais bonito sentimento. A capacidade que temos de não nos sentirmos sós, mesmo sendo isso óbvio.

3 comentários:

Anônimo disse...

É triste ter visão quando se vive entre cegos. =/

Anônimo disse...

what if you're wrong?

Fernando Maymone disse...

Thats the idea!!!